2007/11/05

 

A Escola

Vários comentários sobre os problemas escolares no nosso concelho têm sido colocados solicitando a minha posição em relação aos mesmos.
Responderei, assim, em conjunto aos anónimos que me colocaram estas questões, que são pertinentes e oportunas.
Começo por dizer que falar de Educação e do Ensino que temos -e, não é só em Penalva do Castelo que os problemas existem- não é fácil pelo conjunto de factores -a maior parte deles exógenos ao próprio sistema de ensino e assumidos, quantas vezes inconscientemente, por todos nós. No dia a dia, arrastados pelas preocupações que nos absorvem cada vez mais, não deixamos espaço para ver, dentro da nossa casa, as mudanças necessárias e a falta de acompanhamento aos filhos. Os pais cada vez se alheiam mais do acompanhamento e das suas necessidades, mesmo afectivas dos filhos, remetendo para a escola essa responsabilidade.
Os Pais são os primeiros educadores. Aos professores compete ensinar mas também educar, devendo ser uma extensão da casa de cada um de nós. Devem participar na educação dos alunos corrigindo as falhas comportamentais, ou outras, que possam encontrar e que levem à desmotivação destes em relação aos estudos. Devem, sobretudo, ter e atenção a realidade de cada aluno, fazendo por conhecer, caso a caso, a vivência familiar de cada um. Dir-me-ão que não compete aos professores ir tão longe. Repetirei que sim, que compete, na medida em os nossos filhos passam na escola a maior parte do tempo em que se encontram física e intelectualmente activos. O papel do professor é, também, o muito importante papel de educador.
Agora, em relação à Escola EB 2+3 de Penalva do Castelo e ao ranking, infelizmente bastante negativo, comungo, como pai, das preocupações de todos os pais e encarregados de educação. Como vereador, também me preocupa este facto e, apesar das muitas justificações que o Conselho Directivo possa dar -e terá razões em algumas delas- ficava bem uma justificação alargada e pública para que pudéssemos saber onde deveremos mudar e o que deveremos mudar. No entanto, não me parece que a culpa seja só da escola. A maioria dos pais, pelo seu alheamento em tudo o que diz respeito aos seus filhos na escola, também facilitam este tipo de acontecimentos. Veja-se quantos pais aparecem nas reuniões da Associação de Pais ou quantos se preocupam em fazer chegar as suas preocupações aos responsáveis: muito poucos para não dizer, quase nenhuns.
Os filhos são nossos e serão aquilo que nós quisermos fazer deles, com a ajuda dos professores, evidentemente. Mas os pais são os primeiros responsáveis, mesmo para reivindicar, junto da escola, um ensino eficaz e exigir resultados, o que não acontece na maior parte das vezes. Teremos que ter um ensino capaz de motivar os alunos e professores e criar neles o desejo de aprender e de ensinar, o que não acontece por culpa de muitos factores: dos métodos de ensino, dos professores desmotivados pela precariedade do emprego, pelo desânimo de muitos professores em relação ás constantes mudanças no sistema de Ensino, pela falta de formação adequada, pelo entrada na via-ensino como último recurso para um emprego, pela falta de condições das escolas, pela falta de acompanhamento dos pais, pela falta de uma política de educação que vá de encontro às necessidades do mercado e dos alunos, por falta de recursos económicos do estado, das autarquias e dos pais, enfim, por falta de muita coisa que foge ao nosso controlo e, cuja resolução, não está ao nosso alcance com facilidade. Depois, para agravar tudo isto, o “canudo” já não é sinónimo de emprego.
A autarquia pode e deve ser parte interessada na resolução deste grave problema que é a classificação entre as mais fracas escolas do país. Para isso, terá de fazer e executar uma Carta Escolar, que não é aquela que tem em vigor, pese embora a sua aprovação em Diário da República ainda não tenha acontecido. Ao deixar que ainda fiquem no terreno os pólos de Castelo, Roriz e Sezures, excluiu das condições ideais de ensino muitos alunos, que, vão receber nestes pólos, um ensino nada parecido com o que recebem os que frequentam as Escolas da sede do concelho. Falta-lhes a abertura de espírito gerada pelo contacto com um novo meio escolar e novos colegas, falta-lhes a prática desportiva activa, faltam-lhes os laboratórios, falta-lhes a biblioteca, falta-lhes a percepção de novas convivências, falta-lhes, em alguns casos, uma refeição capaz, falta-lhes um modelo horário racional, etc.
A visão antiquada de que as aldeias se desertificam com o fecho da escola já não tem cabimento. Nos dias de hoje, o que conta é a capacidade de ensino das escolas, dos professores, e, a capacidade de aprendizagem dos alunos. E, isso, só se consegue em escolas modernas e bem apetrechadas. Ficará sempre no ar a ideia de que há alunos da “cidade” e alunos da “aldeia”: os meninos finos e os parolos.
A Escola EB 2+3 tem de saber identificar as causas dos maus resultados que a colocam, concordo, num lugar vergonhoso. O Conselho Directivo deve criar rapidamente um núcleo com professores, pais, alunos, funcionários, técnicos de educação, psicólogos, pedagogos e responsáveis autárquicos, para pesquisar, identificar e clarificar esta realidade, e, indicar um novo rumo que permita corrigir e mudar, com urgência, o caminho que a Escola está a percorrer. Os pais precisam de saber se podem confiar os seus filhos àquela escola e têm de ter a certeza que esta fase de maus resultados vai passar; os pais têm de confiar nos directores e professores que passam mais tempo junto dos seus filhos, do que eles próprios; os pais têm de saber que há brio entre os docentes e que o ranking negativo desta Escola será uma coisa do passado a breve prazo.

17 horas
A meio da tarde telefonou-me um amigo e perguntou: -Afinal de quem é a culpa?
Respondi: -De todos nós! Atribuir a culpa apenas à Escola e aos Professores, por não ensinarem, é injusto! Atribuir a culpa apenas aos pais, por não educarem, é desumano! Atribuir a culpa apenas ao Ministério da Educação e ao sistema de ensino, por não criarem condições, é inconsciência! Atribuir a culpa apenas à sociedade, por não motivar e não proporcionar oportunidades, é desculpa dos maus cidadãos!

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